segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Círio 2010: caminhada movida pela oração e fé

Quando os sinos da Catedral da Sé badalam, ainda na madrugada de domingo, os dois milhões de fiéis recebem o chamamento para o início de mais um Círio de Nazaré. Em frente à igreja histórica, mais uma vez, os paraenses dão uma demonstração única de fé, na tradição que remonta a 218 anos de história.

Ao som dos sinos, às 3h da manhã, já era grande o movimento emfrente à Sé, onde, às 5h10, o arcebispo metropolitano, Dom Alberto Taveira, deu início à missa. Ele chegou à igreja por volta das 4h30, seguido de dezenas de párocos e bispos, como Dom Vicente e Dom Luiz Azcona. O comandante-geral da Marinha do Brasil, Julio Soares Moura Neto, Almirante de Esquadra, também participou da missa.

O novo arcebispo aproveitou o momento para lembrar que oCírio não é apenas um evento oficial no calendário paraense. “Nestes últimos dias, me fizeram várias perguntas sobre meu primeiro Círio. Respondi que o Círio não é como um filme que a gente assiste pela primeira vez. O que vale é a presença de Deus e Deus não se repete, ele é sempre novo”.

Dom Alberto Taveira leu ainda a mensagem do Papa, que dizia que “A manifestação católica do Círio é prova de uma maior união com Cristo de todos os homens e mulheres, um chamamento para a bondade e para a união”.

A procissão iniciou pontualmente às 6h30, quando a imagem foi colocada na redoma de proteção da berlinda. Durante os quatro quilômetros de caminhada, muitas homenagens, pessoas movidas pela oração, pela fé e pela emoção foram cenas constantes, que se multiplicaram até a chegada da berlinda à Praça Santuário.

Parada para tradicionais homenagens

Ao longo da procissão, a imagem de Nossa Senhora recebeu homenagens especiais e já tradicionais. A primeira delas foram os fogos preparados pelos pescadores e feirantes do Ver-o-Peso.

Ao longo da Boulevard, a berlinda parou algumas vezes para receber homenagens. A mais demorada foi a preparada pelos estivadores e arrumadores, já chegando na Presidente Vargas.

Em frente ao Banco do Brasil, a Santa foi saudada com uma chuva de papéis picados e 300 mil balões brancos. Os cantores Juliana Sinimbú e Arthur Nogueira entoaram hinos.

Já em frente ao Banco da Amazônia, o padre Antônio Maria foi a atração, depois de 23 anos sem vir a Belém. “Vejo essa romaria como um mar, em que mergulhamos e saímos inundados de Deus”, disse o padre. Pétalas de rosas também foram usadas para homenagear a passagem da imagem.

Promessa até para o time do coração

Enquanto muitos vão apenas prestar homenagens à Nossa Senhora de Nazaré, por fé e devoção, milhares de fiéis fazem o percurso para pagar promessas em agradecimento. O autônomo Márcio Oliveira acompanhou a procissão carregando uma cruz de 100 quilos. “Todos os anos eu venho de Santa Izabel para agradecer pela saúde de dois filhos”. Este ano, os planos de Márcio eram começar a pagar a promessa desde Santa Izabel. “Não consegui aguentar o peso e deixei para continuar a promessa aqui mesmo”.

Pelo oitavo ano, Nilson de Melo Cardoso, 27 anos, saiu da Sé às 5h30, de joelhos, rumo à Basílica. O esforço de seguir a procissão dessa forma é para pagar a promessa feita para a mãe, Maria do Socorro Melo Cardoso, de 54 anos. “Ela já estava desenganada pelos médicos e sobreviveu. Nós pedíamos muito para Nossa Senhora de Nazaré pela saúde dela. E agora ele agradece”, disse a irmã, Taiana, que acompanhou Nilson em todo o trajeto. Natália Matos, 23 anos, mãe de João Vitor, 6, agradecia pela saúde do garoto, que tinha sintomas de epilepsia desde os 10 meses e hoje, sem medicação, não tem mais crises. “Tive que assinar um termo de responsabilidade perante a médica, mas confiei na Virgem”.

Também chamou a atenção a criatividade de alguns promesseiros. Uma graduada em Direito acompanhou toda a procissão vestida com a beca que usou em sua formatura e nas mãos, um Vade Mecum, livro considerado a bíblia dos estudantes do curso. Dois torcedores do Paysandu também se destacavam entre os fiéis, carregando enormes bandeiras do time do coração.

Para quem assiste, emoção à flor da pele

Ao longo do Círio , a emoção é a marca para quem vivencia o Círio, ainda que apenas como expectador. Junto a milhares de mãos levantadas, ver a berlinda de perto é o que move os fiéis na busca por um lugar ao longo do trajeto.

Dona Zita Conceição, 64 anos, estava entre os que madrugaram para ver a saída da berlinda da Sé. “Eu tenho que estar aqui. É uma obrigação. Deus me dá força e vou continuar aqui até eu morrer”, dizia, visivelmente emocionada.

Dona Vascaína, de 62 anos, que veio de Goiânia com o marido Raiol, para apreciar o Círio de Nossa Senhora, é uma dessas pessoas. O casal optou pela arquibancada da Estação das Docas para assistir a passagem da Imagem. “Meu coração não aguenta, não consigo expressar o que sinto. Dá um aperto no peito, uma entalada na garganta, que é difícil segurar o choro. A gente se emociona a todo momento, especialmente, de ver ao vivo a fé desse povo”, descreveu.

Há 11 anos a cabeleireira Ana Karina Ribeiro acompanha a passagem da berlinda posicionada em frente ao Banco do Brasil. A emoção, se renova a cada ano. “É impossível não sentir nada, porque junta a emoção da presença da berlinda, o sofrimento do amor dos que pagam promessa na corda e mais a homenagem. Eu fico arrepiada”. (Diário do Pará)

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